Avon
A terceira experiência do carmelita-educador no Petit-Collège de Avon é a mais importante, tanto ao nível de duração – estende-se de abril de 1934 a 15 de janeiro de 1944 – quanto ao nível da maturação de sua personalidade.
Entrando no Carmelo, Deus pede a Padre Jacques renunciar ao dom que Ele mesmo nele semeou. Dizer sim a essa morte interior é sua mais bela resposta a Deus. Mas, apenas agregado à Ordem, eis que esta, pela voz dos superiores, lhe confia a construção de todas as instalações e a direção de uma escola secundária, a pôr em ordem em alguns meses. O ideal carmelitano não se define pela educação e ele tem consciência disso: não entrou no Carmelo para dirigir um colégio. A fundação do Petit-Collège de Avon representa, ao mesmo tempo, uma realização e um sacrifício. Realização para o educador que é e continua a ser, renúncia para o carmelita que se torna.
Os inícios são difíceis. É uma verdadeira criação: parte do nada para dar uma “alma” a essa casa, caracterizada por um verdadeiro espírito de família, feito de simplicidade e confiança. Ao fim da visita aos locais com uma família, um dos professores escreveu: “Somem tudo: colégio moderno, água, gás, eletricidade…e o Padre Jacques em todos os andares”. Materialmente, moralmente, intelectualmente e espiritualmente, ele é a alma da casa. Trabalha e faz trabalhar. É para todos, dá-se a todos.
Despertador, líder de jovens, educador da inteligência e da liberdade, Padre Jacques forma jovens responsáveis, abertos e acolhedores aos outros e a Deus. Seu objetivo pedagógico está claramente enunciado: “formar homens… homens livres… santos”. Pontua a caminhada pedagógica, mas não exclui a boa formação “humana”, completa, até a santidade. Reconhece a criança como uma pessoa inteira, entabulando com ela uma conversa de pessoa a pessoa. Sabe depositar sobre cada um deles um olhar de estima e de confiança. Revela o “mais” que está em cada um.
Para fazer um homem capaz de realizar todas as suas aptidões, Padre Jacques tem a preocupação de formar o espírito do jovem no gosto do belo, por meio de uma formação literária, artística e musical. Para ajudar cada um a encontrar seu próprio caminho através de suas capacidades pessoais, organiza conferências de orientação profissional e cultura geral. Tem a mesma preocupação de velar pela educação afetiva dos jovens, iniciando-os no “mistério da transmissão da vida”. Também educa seus alunos à relação pessoal com Deus. Para atingir esses objetivos, Padre Jacques mostra-se criativo em seus métodos pedagógicos e coloca em obra meios vanguardistas para a época, tais como a leitura espiritual à noite e ao fim do estudo, o sistema de grupos e os jogos noturnos.
Por seu olhar, expressa todas as linguagens do coração, passando da aprovação confiante à reprovação muda, da surpresa cúmplice à admiração gratuita, da atenção perspicaz à compaixão encorajadora. Nada fala mais forte que seu olhar, e sua linguagem é compreendida por todos.
“Os olhos de Padre Jacques são um resumo sugestivo dos dez primeiros anos de Avon. Esse olhar é de uma expressividade extraordinária. É que toda a afetividade de Padre Jacques passa por seus olhos. Não lhe restam mais que seus olhos e suas orelhas. Ora, as orelhas lhes servem bem menos que os olhos. E como possui uma afetividade poderosa, transmite por seus olhos toda uma riqueza de impressões, de sensações que fazem dele um artista dos olhos. É o homem que pinta as paredes com cores escolhidas, que expõe quadros de mestres, visita salões de pintura, coleciona imagens em superfície plana e em relevo, busca em todas as partes a cor, até nos uniformes esportivos. Por seus olhos passa todo seu julgamento. Seja para dirigir uma tática de jogo, indicar um esquema mnemotécnico, organizar um coro, julgar uma fisionomia, Padre Jacques é mestre. Seus olhos são, pois, o corredor da afetividade, da inteligência, da arte e do julgamento. O que impressiona é que eles tinham o poder de fazer tremer as crinças e os adultos e, como diz a lenda, fulminar os adversários de combate” (Louis Massé, aluno do Petit-Collège de 1934 a 1942, citado pelo Padre Philippe em Le Père Jacques, Martyr de La Charité, DDB, p. 229).
O jovem professor da Instituição São José do Havre não se contenta com seu trabalho de inspetoria e magistério. Da mesma forma, o carmelita-educador do Petit-Collège de Avon não se contenta com sua responsabilidade de diretor e professor. Raramente recusa uma solicitação de ministério. Não teme os longos deslocamentos para dizer missa, pronunciar um sermão, reconfortar com sua presença. Desempenha sua missão de carmelita pelas pregações nos Carmelos e outras comunidades religiosas e nas mais diversas paróquias, pela animação de retiros, acompanhamento espiritual, confissão. Seu apostolado junto aos leigos é tão variado quanto intenso. Ele está disponível a todos os chamados e a todas as pessoas.
Ao lado de seu apostolado pela palavra, há sua correspondência vasta e variada. Sua linguagem clara, simples, direta, sem nenhuma busca de efeito de estilo, é a linguagem do irmão, do amigo, do confidente que deixa falar seu coração e que vibra, também ele, com todo seu ser sensível. Seu modo de ser carmelita, sua maneira de viver, de ensinar, de falar, de escrever, encarna o carisma carmelitano autêntico e irradiante.
A presença do “outro” percorre como um fio condutor através de toda a existência do Padre Jacques, quer se trate daquele que é outro ao nível social, educativo e religioso. Ele é atraído pelo que é diferente. Ao longo de toda sua vida, ele se volta, assim, pela escolha de seus atos, como padre e como carmelita, para os homens de toda categoria social, política e religiosa.
No rastro da vida de Padre Jacques, três etapas relativamente curtas, mas carregadas de sentido, contribuem para forjar sua personalidade humana e espiritual. Sua missão pessoal de carmelita realiza-se num “claustro” de dimensões sempre mais largas. Essas três etapas representam quatro anos e meio de sua vida e lhe permitem também aprofundar bem o sentido do essencial e o sentido do humano.